Rios da Literatura
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
O sonho de quem não dormiu
sábado, 10 de julho de 2010
Compulsividade
GRITA!
IMPLODE!
(Suor, músculos tensos, vermelhidão, dentes cerrados)
Torce, contorce, esfaqueia, asfixia, envenena, esmaga, arranha, sangra, engole, arranca, lança!
Sofrer! Definhar! MORRER!
(calma...)
sábado, 13 de março de 2010
Desalento
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Quando os muçulmanos eram tolerantes....
No entanto, nós somos seres humanos e como tal não podemos estar equilibrados nem em paz durante muito tempo. Portanto, começaram a ser feitas algumas restrições, que foram obrigando as minorias a passar à maioria ou a deslocar-se e, com o tempo, foi construída uma sociedade cada vez mais fechada à cultura exterior, uma sociedade muito apegada a uma tradição forjada em interesses políticos que muitas vezes se desviam das intenções originais do islão e do Profeta.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Parvoíce seguida de reflexão
Então, não somos hispânicos para não nos confundirem com os castelhanos, mas somos iberos, ainda que estes tenham ocupado o território castelhano todo. Conclusão interessante.
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Shh!...
Desabafo de quem se está a redescobrir
É no período de transição que me encontro agora, o de redescobrir a independência e o acordar do espírito livre que vive em mim.
Por isso, vou tratando da minha vida sozinha, vou onde preciso ir sem companhia e de cada vez que o faço apercebo-me de que eu e o que está à minha volta, nomeadamente o que é novo e desconhecido, tem o potencial de me preencher e de me trazer momentos de felicidade. Como querem que abdique desses momentos para ir para casa, para os problemas da família, para levar com preocupações mal fundamentadas, para atender telefonemas que não me trarão nada de novo, para invadirem o meu espaço com histórias que, ou não têm interesse, ou não fazem bem ao espírito, como conversas tristes ou discussões e constatações de uma realidade infeliz, sem sonhos positivos para o futuro. A minha resposta é não, não abdico dos meus passeios por Lisboa, nem dos meus momentos sós, desligada de tudo o que me rodeia, a não ser o que não comunica por palavras. A única coisa que me fará comunicar é a perspectiva de sorrir, rir ou maravilhar-me com o entendimento e a companhia que o silêncio e um simples olhar podem criar quando estamos na presença de pessoas de quem gostamos e que gostam de nós, aquelas que conhecemos e que nos conhecem verdadeiramente.
sexta-feira, 29 de maio de 2009
Paixões
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Palavras
Para que servem as palavras?
«São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparados, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
creis, desfeitas,
nas suas conchas puras?»
Eugénio de Andrade, 'As Palavras' in Até amanhã
As palavras têm impacto?
Têm para quem as quer ouvir e sentir porque quem não quiser facilmente cria uma barreira contra as mesmas.
Penso que são válidas até deixarem de ter fundamento, até serem proferidas sem sentido ou para o mal, pois as palavras existem num contexto e se esse contexto for válido, então as palavras também o são, se assim não for, as palavras perdem peso, ainda que o receptor sinta o impacto das mesmas, o que é um tema à parte, porque a validade tem de ser entendida pela razão e o impacto está implícito no campo da sensibilidade.
segunda-feira, 25 de maio de 2009
'Vocabularizando'
Para que tal fenómeno metafísico pudesse acontecer em mim, tive de ser persignada pelo Universo e pela relatividade e, com um abrenunso divino, etéreo, 'Fiat lux!' e um demónio surgiu dessa luz para me ensinar e acompanhar.
Agora passeio-me pelo tempo e pelo espaço, criando sonhos e vontades que me ajudem a construir o meu pequeno memorial, para que este se possa reunir em convento com os restantes memoriais da história, independentemente do seu tamanho físico ou grandeza contextual.
"Faiz favô di sê felizes!"
Sejam saudáveis e permitam-se sentir e permitam-se sentir para serem saudáveis e, como já ouvi e referi no título, "Faiz favô di sê felizes!"
domingo, 17 de maio de 2009
E chora Blimunda
quarta-feira, 13 de maio de 2009
'Circularidade' circular
A gripe suína é uma doença que se apresenta como uma gripe vulgar e é transmitida da mesma forma que a mesma, alastrando rapidamente devido à falta de hábitos de higiene pessoal e 'comunitária', como não lavar as mãos ou tossir e espirrar sem colocar a mão à frente. Essas faltas (não propositadas e sem suspeitar mal) fazem com que este género de doenças se alastre bastante rápido e por todos os cantos do planeta, devido à globalização.
No passado vivemos outras epidemias, não a uma escala global, mas que ainda assim, no contexto evolutivo da época foram catastróficas, como a peste negra no século XV, a tuberculose no século XIX, vírus da SIDA no século XX e XXI, entre outras. No Memorial do Convento encontramos um surto epidémico de peste negra que mata um número razoável de pessoas, uma vez mais resultado da falta de higiene da população.
Nisto se conclui que a vida do Homem é circular, tal como a estrutura narrativa do Barroco, pois o tema é sempre o mesmo, tendo apenas pequenas variações (estilo, arte, ciência, escala) que escondem e embelezam a 'estória' da humanidade. Assim se passam XXI séculos com capítulos bons, menos bons e maus que, se forem resumidos à sua essência, resultam num só. Uma pequena grande parte desse capítulo pode ser encontrada no Memorial do Convento: os governos e governantes representados por D. João V (que se apresenta como personagem complexa, não completamente estúpido); a condição feminina representada pela rainha e também por Blimunda (apresentando as duas formas de como as mulheres são tratadas pela sociedade: ora como seres da casa e da reprodução, ora como seres inteligentes e capazes, com outras 'funções' à parte da de «vaso de receber»), o casamento (por conveniência em oposição à união amorosa); a luta de classes e a estratificação social, que no século XVIII era por ordens, determinadas maioritariamente pelo nascimento e, actualmente, organizada por classes, determinadas, em grande parte, pelo poder monetário; as guerras; as crises económicas e políticas que culminam em revolução, sendo que revolução indica uma volta de trezentos e sessenta graus, o que significa o recomeço de outro ciclo, outro capítulo circular com o raio maior que o anterior e que apresenta algumas variações, mas cuja base é sempre a mesma: origem, a construção/reconstrução, os dilemas, os problemas, a crise e a revolução. Desta forma vive o Homem desde os primórdios da sua existência: em conflito, em crise, em círculo. Tudo isto tem o propósito de aprendizagem, é o método evolutivo da humanidade e como a circunferência é considerada a forma geométrica perfeita, talvez este método seja também ele perfeito, embora duvide, pois a circunferência XXI tem um raio tão grande como o globo terrestre (por isso vivemos numa aldeia global) e apresenta uma curva tão imensamente densa de fumos, intolerâncias, dinheiros e bombas, que julgo que poderá fazer com que o seu centro (o planeta terra) impluda, impossibilitando, não uma revolução, mas sim uma evolução.
Cai a chuva, escorrem ideias
O mundo aos olhos de Deus
segunda-feira, 4 de maio de 2009
Escrever-Escrevo-Escreve
(Esta ideia poderia continuar a ser desenvolvida, como muitas outras presentes neste blog, mas por agora, fica/ficam por aqui. Pergunto-me como abordarei estas questões daqui a uns tempos, quando tiver mais experiência de vida).
domingo, 3 de maio de 2009
Reflexão intercalar
Penso que as últimas seis publicações deste blog representam parte da minha evolução pessoal e também da minha expressão. Com Saramago apercebi-me mais uma vez de quão longe me encontro de me encontrar e de chegar à perfeição, se não a geral, à minha perfeição.
Gostei muito de escrever durante estas semanas, porque estive mais ligada ao mundo exterior do que é habitual em mim e tentei exprimir o que sinto em relação ao que me rodeia o melhor possível. Também gostei bastante de escrever sobre o Memorial do Convento e tenciono escrever mais e melhor sobre o mesmo, pois é um romance com muito potencial de reflexão a vários níveis.
Deste modo, considero que os resultados até agora foram positivos.
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Narrador?
Narrador - Aquele que narra
Narrar- expor, contar, historiar
Segundo Saramago nenhuma obra tem narrador, ou seja, na arte, quer ela seja literária ou plástica, não existe um intermediário entre o autor e o público.
Se o autor é o criador e cria um narrador para contar uma história, escolhendo as suas qualidades, ou seja, se esse narrador saberá tudo sobre o mundo da obra ou se vai saber apenas parte, se vai comentá-la ou vai ser objectivo, se se vai envolver ou se vai manter uma distância, isto é, se cria uma personagem para contar aquilo que ele criou e que terá de saber tanto quanto o próprio criador para historiar, então o narrador é o próprio autor, é parte dele.
O narrador é uma personalidade criada através da própria personalidade do autor para contar uma história ou transmitir uma opinião e mesmo que as características dessa personagem não se identifiquem imediatamente com as do autor, acredito que seja parte sua, como um heterónimo. Não é concebível, para mim, separar autor e narrador pois estão intimamente relacionados, visto que a perspectiva da história que o narrador transmite é a do autor. Os dois são um, sendo que o narrador pode ser um fragmento do autor, o que nos remete para a crença de Fernando Pessoa de que somos plurais, capazes de nos desmontar em vários seres, se o quisermos.
Assim, não posso concordar nem discordar, pois há narrador, mas este é sempre o seu autor.
terça-feira, 28 de abril de 2009
Passado e Presente
quinta-feira, 23 de abril de 2009
Eu perto de ti, tu distante de mim.
Vejo-te, teus longos cabelos morenos,
Travessão que os doma,
Que indomável é a tua natureza de mulher.
A tua silhueta fluida como tinta da china sobre papel
Plana pelas ruas, qual andar divino,
Que me faz parar e admirar,
Como pincel que percorre vagarosamente a obra de arte.
Viras-te.
Oh! Blimunda minha!
Tu que com mero olhar me despes de mim
E expões o meu sangue quente que lateja consonante com o ondear dos teus cabelos.
Blimunda! Teus olhos profundos da cor da tua alma,
Que tudo em mim vêem e não me deixam mentir,
Eles que me percorram como eu te percorro,
E descubram o que eu não consigo descobrir em mim.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Pontuação
Assim começa, desenvolve e finaliza Saramago as suas obras, só e apenas com vírgulas e pontos. A consequência superficial desta inovação são páginas pesadas, densamente negras, que eventualmente terão um avanço, um rasgo de branco puro ao centro da página par e outro no fundo da página ímpar. A outra consequência, aquela para quem não é demovido de ler o livro apesar da sua aparência negra, é a de um ritmo de leitura bastante 'rápido', no sentido de se procurar um ritmo oral natural, falado.
São estas palavras que os alunos ouvem naquela sala sem paredes, com tecto frondoso e chão relvado. Os objectivos tiram notas mentais, dactilografando a informação na tábua da memória, secção escolar, alínea português. Os subjectivos pegam no parágrafo e levam-no pela mão para o passeio do inconsciente. Acompanharemos os últimos.
Só e apenas vírgulas e pontos, diz para si, A vírgula e o ponto constituem a base da pontuação. Pode-se tirar tudo, mas não podemos tirar a vírgula e o ponto! Isto porque estão em tudo, encontramos pausas curtas e longas em tudo, a pausa do anúncio da kitkat, o dormir e o antes de acordar, a alternância entre o inspirar e expirar, o pestanejar (vírgulas sucessivas e rápidas), as cadências à dominante e as cadências perfeitas, os goles de água e o último ahhh da garrafa. Tudo tem pausas, até o nosso andar tem um ritmo próprio, pensa para si exaltado, Acho que o meu andar é 'virgulado', porque eu até ando relativamente rápido, já o da minha professora é mais 'pontuado', mais sereno. É, é isso, tenho um andar virgulado, pensa sorrindo para si.
Os companheiros separam-se. O aluno volta para a relva e o parágrafo perde-se nas ruas da memória.
A matéria e o sonho
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Surpresas
«No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressoante,
Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,
No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.»
José Saramago
Consultado em http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/j.saramago.html
Já nada me surpreende e como diz Pessoa e muito bem: "primeiro estranha-se, depois entranha-se".
quinta-feira, 26 de março de 2009
O fluir do pensamento
Beber dessa água seria como beber inspiração, criatividade e sabedoria pois, como não há duas gotas iguais, beberíamos sempre letras diferentes que juntas comporiam palavras sempre ricas e originais.
Se hoje a criatividade não tem fim, com uma água assim, letrada, seria um constante auge e uma constante reinvenção da escrita e da língua em si. Não existiriam aulas, mas sim tertúlias. Todos partilhariam as experiências e os conhecimentos únicos adquiridos através da água e seria uma partilha constante e gigantesca. Isto, claro, se não existissem egoístas e avarentos no mundo que quisessem tudo só para si. Provavelmente, os que não eram egoístas e avarentos torna-se-iam neles, sentido-se injustiçados por partilharem e não terem nada em troca. Imaginemos que nesse mundo em que a água é palavra, não existem tais pessoas. São todos inocentes, puros, gratos e altruístas. Os momentos de tertúlia entre essas pessoas seriam de compreensão interior e inconsciente, pois uma língua sem regras nem limites não pode ser entendida apenas pelo consciente, que, por vício, compartimenta e organiza as coisas do mundo. Aquilo que vive no interior é do inconsciente, porque é livre e fluido e, portanto, uma língua inconstante, efémera e ondulante só pode viver nesse local selvagem e virgem e ser compreendida de forma mais espiritual.
Pergunto-me se não será desse mundo, com essa água, que vêm alguns escritores, como Fernando Pessoa. A sua escrita é profunda, mesmo quando a intenção é ser leve e fresca, as palavras ganham vida própria, personalidade e novos sentidos e os versos são fluidos e ondulantes, cheiram a maresia e sabem a mar... Ao mar da poesia. Faço várias referências a este mar e a Fernando Pessoa. Isto porque quando leio Pessoa, vejo-me a mim, um ser um tanto plural e em constante euforia interior, que não a transparece fisicamente para o exterior, recorrendo, para a exprimir, a meios artísticos, nomeadamente à escrita e, no que toca ao mar da poesia, evoco-o porque quero alcançá-lo, não com a pretensão de se outro Pessoa, porque não possuo o seu génio, mas sim porque quero trazer alguma poesia comigo, para a deixar correr nos textos que escrevo.
Beber da poesia e mergulhar na prosa, partilhar o que aprendi e aprender com os outros e, assim, exceder-me a mim própria. É o que eu pretendo. E se para isso tenho de viajar para o mundo de onde os escritores (com E grande) vêm e tiver de beber da água letrada, tanto melhor!
domingo, 15 de março de 2009
Uma ideia, outra ideia... Devaneios
Eu escrevo em qualquer lado, a qualquer instante do dia e todos os dias. Posso não transpor o que escrevo para o papel, mas ainda assim escrevo. Tudo o que penso, todas as coisas que imagino passam por uma reflexão do meu consciente (que é bastante inconsciente) e aparecem na minha mente em forma de contos. Eu não vejo o texto na minha cabeça, vejo imagens. No entanto, existe um narrador que acompanha essas imagens e conta as suas histórias.
É um processo engraçado, o de viver através de uma história narrada por um narrador interior, de voz serena e quente e ilustrada por imagens luminosas. É como se dentro de mim vivesse uma outra pessoa encarregada de me ensinar as coisas da vida através de histórias.
Assim como Fernando Pessoa tem os seus heterónimos , sendo que um desses heterónimos é mestre, Alberto Caeiro, que o inspira, o mesmo se passa comigo e com este narrador. Ele escreve bem melhor que eu, é mais eloquente, mais poético, mais musical, mais tudo. Quando escrevo, normalmente o narrador apodera-se do teclado ou da caneta e ajuda-me a produzir texto e a progredir e quando isso não acontece, a diferença entre textos com e sem ele é enorme.
Acho que todos nós temos outro eu dentro de nós, que pode ser mais ou menos perceptível, na medida em que é mais parecido com a própria pessoa ou não (como Bernardo Soares que quase se confunde com Fernando Pessoa), mas também pela forma como intervém no nosso dia-a-dia.
É interessante conhecer esse indivíduo que está sempre presente, sendo a nossa melhor companhia na nossa eterna solidão, e que, por não ter corpo, por ser apenas espírito e ideia, acaba por ser 'omnipotente', possuindo uma sabedoria que pertence ao nosso inconsciente e que se vai revelando através do que chamamos intuição e 'visões'. Penso que, no fundo, é daí que vem da genialidade, da conversação entre o nosso eu consciente material e o nosso eu transcendente (in)consciente que nos ajuda a evoluir e amadurecer espiritual e ideologicamente. As pessoas que desenvolvem mais essa conversação, aquelas que sonham acordadas e vivem o mundo exterior através de uma perspectiva interior, intimíssima e única (e certamente fascinante), são aquelas cujo génio é genuíno e cuja obra é aparentemente difícil de compreender, mas que é apenas complexa. São exemplos de genialidade Fernando Pessoa, que através das suas múltiplas dimensões do eu, chegou, não só à sua própria unidade, mas também à da humanidade, apresentando também uma mentalidade bastante vanguardista sobre o mundo material, o seu mundo pessoal e o mundo espiritual e Albert Einstein que nos revelou a Teoria da Relatividade, que explica que espaço e tempo são relativos, que o intervalo de tempo e o comprimento não são absolutos (e pouco mais posso dizer a respeito, pois não tenho conhecimentos suficientes para a explicar bem). Exploraram-se ao máximo: sonharam, pensaram, viveram e transcenderam a mentalidade da sua época.
"Aquilo que, creio, produz em mim o sentimento profundo, em que vivo, de incongruência com os outros, é que a maioria pensa com a sensibilidade, e eu sinto com o pensamento."
- Autobiografia sem Factos. (Assírio & Alvim, Lisboa, 2006, p. 93)
"A superioridade do sonhador consiste em que sonhar é muito mais prático que viver, e em que o sonhador extrai da vida um prazer muito mais vasto e muito mais variado do que o homem de acção. Em melhores e mais directas palavras, o sonhador é que é o homem de acção. "
-Autobiografia sem Facto. (Assírio & Alvim, Lisboa, 2006, p. 110)
"A Ciência sem a Religião é coxa, a Religião sem a Ciência é cega."
- Fonte: Einstein, Albert, Ideas and Opinions, Crown Publishers, Inc., New York, 1954
"Não existe nenhum caminho lógico para a descoberta das leis elementares do universo – o único caminho é o da intuição."
- Fonte: O Pensamento Vivo de Einstein
Consultado em: www.wikiquote.com
A vida, o pensamento e a escrita são como rios, correntes de água que vão escavando a terra (o mundo) deixando a sua marca. Se as pessoas viverem, pensarem e se expressarem intensamente e com profundidade, deixarão uma marca maior e mais rica. A capacidade criadora e a sabedoria não têm limites e são acessíveis a quem estiver aberto às mesmas.
Todos podemos alcançar o génio.
segunda-feira, 9 de março de 2009
Século XXI, Século XX e Sttau Monteiro
Após algumas redes lançadas (e de algumas risadas) caiu-me peixe graúdo nas mãos molhadas que, com muito gosto, partilho com os leitores deste blog:
Another english poem by Pessoa
«Sorrow came and wept
By my side.
Slow and light she stept
As I walked towards God
By my side.
But I can never find that Great Adobe,
And there is darkness in Descried.»
«A tristeza veio para chorar
A meu lado.
Lenta e leve pôs-se a caminhar,
Enquanto eu ia para Deus,
A meu lado.
Mas nunca consigo achar esse Grande Lar,
E há só escuridão no Divisado.»
PESSOA, Fernando. Poesia inglesa II. Assírio & Alvim. Lisboa. 2000
sábado, 21 de fevereiro de 2009
Sonho, Baixa, Pessoa e Eu
-Bom dia Madalena! - disse, sobressaltado com a minha presença inesperada.
- Bom dia! Estavas a fugir de quem?
O homem sorriu ligeiramente. Nunca foi muito expansivo em público.
- De mim, suponho. E dos outros também.
-Posso fugir contigo até ao fundo da rua?
-Claro.
Começámos então a nossa escapadela pela Rua Augusta. Começou a chover. À medida que a chuva caía e cantava na calçada, as pessoas corriam para os cafés para se abrigarem. Mas eu e Fernando Pessoa continuámos a passear no meio da rua.
- Gosto de andar à chuva. Principalmente quando chove assim, 'a potes'. - disse, olhando para ele- Fernando, estás tão cabisbaixo hoje... Passou-se alguma coisa?
- É a Ofelinha.... - disse baixinho, olhando para o chão.
- Ah... - intervim, ficando esclarecida. Calei-me.
Estávamos a andar, ambos calados. Pessoa tinha a sua máscara posta. Estava pesaroso, era notório, mas a sua mente é tão complexa e misteriosa que cria uma camada de água turva que nos impede de ver o fundo.
Inclinei-me até conseguir olhar para o rosto dele e sorri-lhe.
- Olha para o céu. Sente a chuva e não penses por um momento.
Não me respondeu, mas olhou para cima, para as nuvens chorosas.
- Como te sentes?
- Mais leve. Estava tão absorvido em mim que não reparei na chuvada que está a cair.
Fomos assim ao longo da rua, postura direita, sorriso leve, calados, a apreciar a rua deserta e a ouvir a melodia da chuva.
No entanto, de uma das transversais, cortou um guarda-chuva preto o horizonte chuvoso. O ponto preto começou a dirigir-se na nossa direcção. Já não era só um ponto preto, ou um guarda-chuva. Era um homem. Era Ricardo Reis!
- Então, estão os dois à chuva? Metam-se debaixo do chapéu. Se ficarem à chuva apanham uma pneumonia.
- Obrigado Ricardo, mas eu e a Madalena preferimos ficar a apanhar chuva. Não quer experimentar?
- Não, muito obrigado. Não é das coisas que me dê mais prazer. Além disso, não quero ficar doente. Acho que vão precisar de mim saudável mais tarde para tratar de vocês. Até logo.
- Até logo Ricardo. - despedi-me.
- Se calhar o Ricardo tem razão. É melhor irmo-nos abrigar.
- Disparates! Já reparaste que está tudo cinzento? Até nós estamos cinzentos.
- Sim, pois estamos. Mas o que é que isso quer dizer?
- Bom, nós não somos cinzentos. O meu cabelo é castanho, assim como o teu, os meus olhos são esverdeados e os teus castanhos, a nossa pele é 'salmão', e por aí a diante.
- Então o que é que se passa? Porque é que estamos cinzentos?
- Deve ser um sonho. Não sei se é teu, se meu, se de um desconhecido.
- Ah, sim! E se estamos num sonho, não podemos ficar doentes, por isso, podemos andar à chuva o tempo que quisermos.
-Melhor! Podemos fazer o que bem entendermos porque as pessoas que vemos não são reais, logo não temos de nos preocupar com as aparências. E sabes o que me apetece agora? - Fiz uma ligeira pausa - Quero dançar!
- Dançar?! Agora?
- Sim, agora. Acompanhas-me?
- Não sei, Madalena.... Os sonhos são tão irreais... Não me parece palusível. Devemos ser prudentes.
- Estamos num sonho! Podes ser tu mesmo! Podes desmascarar-te. Não tens de ter medo... Então, vens? - perguntei-lhe, estendendo-lhe a mão.
Pessoa agarrou a minha mão e conduziu-me numa dança sem regras, num estilo que só os dois entendíamos e ao som de uma melodia tão pura e única como é a da chuva caindo na calçada.
Dançámos.
Dançámos, dançámos, dançámos
E dançámos pela Baixa fora.
Dançámos todos os miradouros,
Todas as ruas,
Todos os cafés,
Todas as praças,
Todos os teatros,
Todos os cantos e recantos desta trama viva.
A Baixa.
E as pessoas não viam,
Só passavam, corriam, conversavam, riam.
Mas não viam
E não dançavam
Nem sentiam a chuva
Eram meras sombras de si próprias presas num sonho.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Relatório da Visita de Estudo
domingo, 15 de fevereiro de 2009
S. Valentim
Meus beijos foram sem conto,
Apartei-a contra mim,Enlacei-a nos meus braços,
Embriaguei-me de abraços,
Fiquei louco e foi assim.
Dá-me beijos, dá-me tantos
Que enleado em teus encantos,
Preso nos abraços teus,
Eu não sinta a própria alma, ave perdida
No azul-amor dos teus céus.
Boquinha dos meus amores,
Lindinha como as flores,
Minha boneca que tem
Bracinhos para enlaçar-me
E tantos beijos p'ra dar-me
Quantos eu lhes dou também.
Botão de rosa menina,
Carinhosa, pequenina,
Corpinho de tentação,
Vem morar na minha vida,
Dá em ti terna guarida
Ao meu pobre coração.
Não descanso, não projecto,
Nada certo e sempre inquieto
Quando te não vejo, amor,
Por te beijar e não beijo,
Por não me encher o desejo
Mesmo o meu beijo maior.
Ai que tortura, que fogo,
Se estou perto d'ela é logo
Uma névoa em meu olhar,
Uma núvem em minha alma,
Perdida de toda a calma,
E eu sem a poder achar.»
De Fernando Pessoa para Ophélia
Também Fernando Pessoa sentiu as águas quentes e agitadas da paixão...