sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O sonho de quem não dormiu

Hoje tive um sonho... Sonhei que estava só, completamente só, e que na minha solidão se rasgava uma paisagem cinzenta. Um mar imenso platinado espreguiçava-se na areia negra e grossa, acima do qual se estendia em toda a amplitude do céu uma nuvem triste.
Vagueei nessa praia sem fim até os meus pés se cansarem. Virei-me então para o mar. Oh! Como tenho saudades de ser envolvida pelo mar! De lhe falar e pedir protecção. De sentir a rebentação acariciar-me os pés seduzindo-me a entrar. Como sinto falta de ser puxada para o seu íntimo, para o fundo mais fundo, para o recanto mais escondido.
Entrei. Uma onda abraçou-me e prendeu-me, levando-me para o seio do oceano. Deixei-me boiar esvaziando a alma a cada rebentação das ondas. O vazio é incrivelmente pesado, tão pesado que me afunda, que me afoga no meu próprio desespero; esse desespero de ver uma réstia de luz e de me continuar a afastar, de a ver mais longe e difusa e ainda assim tão bela.
Aí encontro reconforto porque a beleza, principalmente a que não se alcança, traz-nos uma ilusão de paz, uma sensação inebriante de que tudo vai ficar bem só de contemplar...
A felicidade pode ser imperfeita, mas é sem dúvida bela, e tão mais bela quanto mais utópica for.

sábado, 10 de julho de 2010

Compulsividade

Sofrer, definhar, morrer! Sofrer, definhar, morrer! Sofrer, definhar, morrer!

GRITA!

IMPLODE!
(Suor, músculos tensos, vermelhidão, dentes cerrados)

Torce, contorce, esfaqueia, asfixia, envenena, esmaga, arranha, sangra, engole, arranca, lança!

Sofrer! Definhar! MORRER!
(calma...)

sábado, 13 de março de 2010

Desalento

Gordas são as lágrimas que rolam pelo meu rosto... Rolam em desalento, caindo nas fotocópias sobre netsuke ou no prato da tarte de maçã.
Como é possível chorar tanto... Choro há mais de um ano, desolada e inconsolável. Escondo o que me faz chorar do mundo, fujo das pessoas e venho sentar-me aqui, junto à minha janela, a olhar para o céu e choro.
Gritos mudos ecoam na minha cabeça. Gritos de dor ressoam consonantes com o bater do meu coração contraído, que embora tenha passado por muito mais que muitos outros continua resistente. Isto porque, por mais que o tente evitar, escolho sempre o caminho mais penoso para me libertar. E assim sinto-me definhar aos poucos, sinto subtraírem-se os dias do amor, da paixão, da felicidade, assim como as memórias que os acompanham... um por um vão desaparecendo, deixando um vazio que murmura, que implora por ser preenchido. Mas está tudo tão longe... O passado não o alcanço, e o futuro nem se avista. Até o presente está deslocado de mim. Estou num espaço e num tempo que não consigo explicar, mas que nada nem ninguém consegue chegar. E logo agora que preciso de ser salva.... Logo agora que choro, que estou vazia, que estou só.