quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Shh!...

Não me falem da política, porque esta política não o é. Não me falem da crise e de crises, porque não é a falar nelas que as vamos superar. Não me falem de amor, nem de ódio, pois são duas palavras que têm uma força esmagadora e que não devem ser pronunciadas em vão. Não me falem do que não conseguem ver, do que não conseguem ouvir ou sentir, falem-me antes do que vêem, ouvem e sentem e vejam, oiçam e sintam. Não me falem nas mudanças climáticas, encontrem soluções para as mesmas. Não me falem na pobreza, nem na fome, acabem com a pobreza e com a fome. Não me falem em informação, porque a informação é filtrada e nunca sabemos todos os ângulos de uma notícia. Não me falem do preto e do branco, falem-me do cinzento. Não me falem no Bem e no Mal, falem-me das pessoas. Não me falem em guerra, mas sim em paz. Não falem em petróleo, investiguem e invistam em alternativas ao petróleo. Não falem sobre educação, eduquem. Não falem do que fizeram, digam o que vão fazer e façam. Não falem sobre a doença, anunciem a cura. Não falem da catástrofe, evitem-na. Não falem sobre o negativismo, sejam positivos. Não falem no que não têm, valorizem o que têm e lutem pelo que vão ter. Não se arrependam, aprendam. Não me falem do que não sabem, ensinem-me o que sabem. [Querem ser patriotas?] Não cantem o hino do vosso clube, cantem o hino português. E não me falem em futebol, porque eu não gosto.

Desabafo de quem se está a redescobrir

Quando estamos habituados a fazer tudo acompanhados, ou melhor, quando nos habituamos a não fazer as coisas sem aquela pessoa que esteve presente durante parte da nossa vida, durante muito ou pouco tempo, e nos tornamos dependentes dela, não nos apercebemos do que estamos a perder.
É no período de transição que me encontro agora, o de redescobrir a independência e o acordar do espírito livre que vive em mim.
Sair à rua e fazermos coisas sozinhos, quando nos vemos desamparados emocionalmente, torna-se uma aventura, se o virmos através de um panorama positivo, pois caso contrário torna-se antes um tormento. Para mim, tornou-se uma odisseia interior e exterior bastante entusiasmante. Notamos e valorizamos o que de mais ordinário acontece e tornamos essas experiências vulgares em pequenos tesouros privados que nos fazem sorrir, como quando um condutor se mete connosco, as pessoas que nos abordam na rua para pedir informações, para pedir esmola utilizando métodos bastante originais que valorizam o dinheiro que damos, aqueles que nos tomam por estrangeiros, ou ainda os que apenas querem alguém com paciência para os ouvir... E não é só! Passamos a olhar com mais atenção para o que nos rodeia, apreciamos as ruas e os edifícios, o céu, as árvores, o rio, enfim, tudo aquilo que a vista alcança.
É um mundo inteiro que se abre e do qual não queremos sair. Por isso, quando me telefonam ou enviam sms que perturbam a minha paz e aventura interior torno-me bastante hostil. Pessoas que por vezes não nos ligam e passado muito tempo vêm ter connosco para relembrar o passado, outras que pensam ter ganho a nossa amizade profunda após um mês ou mesmo algumas semanas depois de nos terem conhecido, ou pensam ter conhecido... A isto, só digo: "Haja paciência!" . E a paciência não é bem o meu forte, pelo menos no que toca a estas coisas ou a certas pessoas. Não gosto de me sentir sufocada, nem pressionada, nunca fui de dar satisfações, nem de andar a rodear as pessoas. Também não gosto de cultivar sentimentos e relações que não são recíprocos e mais tarde virem tentar reavivar aquilo que já ultrapassei. Se há alguma coisa que queira, com jeito vou atrás dela e se por acaso me aperceber que me é de todo impossível conseguir no momento não encontro em mim resistência nenhuma em desistir ou adiar a 'luta'. Há momentos indicados para tudo e para falar comigo também. Há boas e más alturas e se eu respeito as más alturas dos outros gostava que respeitassem as minhas.
Neste momento estou a gozar a minha solidão. Solidão esta que tem sido bastante feliz, na medida em que me sinto livre, desprendida do dever de estar presente para alguém e de dar satisfações a esse alguém.
Por isso, vou tratando da minha vida sozinha, vou onde preciso ir sem companhia e de cada vez que o faço apercebo-me de que eu e o que está à minha volta, nomeadamente o que é novo e desconhecido, tem o potencial de me preencher e de me trazer momentos de felicidade. Como querem que abdique desses momentos para ir para casa, para os problemas da família, para levar com preocupações mal fundamentadas, para atender telefonemas que não me trarão nada de novo, para invadirem o meu espaço com histórias que, ou não têm interesse, ou não fazem bem ao espírito, como conversas tristes ou discussões e constatações de uma realidade infeliz, sem sonhos positivos para o futuro. A minha resposta é não, não abdico dos meus passeios por Lisboa, nem dos meus momentos sós, desligada de tudo o que me rodeia, a não ser o que não comunica por palavras. A única coisa que me fará comunicar é a perspectiva de sorrir, rir ou maravilhar-me com o entendimento e a companhia que o silêncio e um simples olhar podem criar quando estamos na presença de pessoas de quem gostamos e que gostam de nós, aquelas que conhecemos e que nos conhecem verdadeiramente.
(Um texto dedicado a Renato Rocha, que sempre me incentiva a escrever sobre tudo e nada)