sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Reflexão



«Na noite escreve um seu Cantar de Amigo,
O plantador de naus a haver,
E ouve um silêncio múrmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.

Arroio, esse cantar, jovem e puro,
Busca o oceano por achar;
É a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.»
( D. Dinis, Primeira Parte - Brasão,Mensagem)


Termino este capítulo do meu trabalho com o poema "D. Dinis", da Mensagem, pois neste encontro algumas semelhanças com a minha pessoa e com as minhas expectativas de trabalho.
"D. Dinis" deixa o meu trabalho em aberto, pois este nunca terá fim. A água está entranhada na nossa vida e sem ela não podemos existir, nem fisicamente nem espiritualmente. É essencial.

Comecei este blog uma noite com uma introdução ao seu tema e uma explanação do simbolismo da água. Procurei n' Os Lusíadas e na Mensagem exemplos diversos que demonstrassem a variedade de sentidos e formas que a água pode adquirir e enriqueci o meu trabalho colocando textos da minha autoria e de outros autores, referentes ao tema, tentando relacioná-los com as obras paralelamente estudadas na disciplina de Português.

Infelizmente não desenvolvi o trabalho tanto quanto gostaria. No entanto, estou decidida a dar continuidade a este blog que é o som presente desse mar futuro, o início do meu futuro neste mundo novo que é a literatura. Sinto que a minha vontade é a voz da terra ansiando pelo mar, a vontade de descobrir a vastidão que é o oceano da literatura que ondula sem se poder ver, sentindo-se e ouvindo-se apenas as suas ondas rebentarem na nossa costa apelando a nossa atenção. A minha, já a conseguiram e espero que com estas pequenas canções de amigo, com este começo de busca do oceano por achar, me torne num
plantador de naus a haver.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Desafio: A Alma do Índio




Sou pequena e grande. Sou tudo e nada. Sou o que quiser ser e não o que querem que eu seja. Hoje quero ser água. Quero ser água cristalina, aquela que refresca com um mero olhar, aquela que num só golo sacia a sede, aquela que é mais leve que todas as outras águas, quer sejam do charco, de rios e ribeiros, da chuva, nevoeiro ou até mesmo da gota de orvalho! Aquela água que é mais límpida que as límpidas águas dos lagos e que tem o fulgor das águas marítimas, cuja maresia seduz toda a humanidade.
O murmúrio da minha água lembrará que todos os oceanos, mares e rios são nossos irmãos assim como toda a natureza que nos circunda e ressuscitará todos os que morreram afogados pelo mundo. O reflexo da minha água mostrará o que cada um foi e o que fomos, o que cada um é e o que somos, o que cada um e todos nós poderemos fazer para SER. Este SER é o que nos move. Não é corpo, é energia. Esta energia leva consigo o passado, o presente e o futuro. É o que nos permite viajar em nós próprios, o que nos permite transformar e sentir o que não é fisicamente realizável. Tal como eu hoje sou água devido à minha energia, amanhã posso transformá-la em ar, em terra, em estrela, em nada. Para o fazer basta-me sentir o AMOR do universo, basta amar e ser amada. A partir daí, deixo-me sair do meu corpo para ser só energia e como energia posso ser o que quiser.
Hoje sou água.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Quinta da Regaleira


A água é um elemento purificador. Um simples banho pode fazer a diferença entre o bom e o mau-humor. A água limpa por fora e por dentro. Entra em todos os orifícios, cantos e recantos do nosso ser e arrasta consigo toda a sujidade e imperfeição.

Na Quinta da Regaleira a água purifica a nossa alma. Nesta quinta, o mistério do 'interior', do ser, envolto nos símbolos, mitos e rituais, torna todo o espaço (e seu significado) poético e maravilhoso.
A água, um dos muitos símbolos nela presentes, encontra-se sob várias formas: nos peixes, que simbolizam a fertilidade; no búzio, cujas espirais representam as etapas para a purificação; nos dragões marinhos do Portal dos Guardiães que guardam o mundo interior; na cascata que separa o mundo terreno do Além; nos poços que permitem a morte simbólica, isto é, a pessoa desce ao poço, para o mundo interior- o Inferno- de modo a que se encontre a si própria, vença os seus medos e ultrapasse as suas imperfeições (assim como Vasco da Gama e os marinheiros portugueses superaram os seus durante a viagem para a Índia), voltando à superfície, após passar pela água (por exemplo, a passagem pelo Lago da Cascata) como baptismo, ou seja, como símbolo do seu processo de purificação e renascimento (que n' Os Lusíadas é representado pelo episódio da Ilha dos Amores, onde os navegadores lusos são recompensados com a divinização, visto terem conseguido elevar-se à perfeição humana).


Para Carvalho Monteiro, o homem que idealizou todo o projecto simbólico que é a Regaleira, a água tinha um significado positivo.
Este símbolo acompanha o indivíduo durante o seu caminho interior, indicando-lhe, muitas vezes, a direcção que deve seguir (como nos túneis, onde o viajante deveria guiar-se pelo som da água a cair no lago, visto estar muito escuro para se conseguir orientar pela visão) e também faz a verificação da ascensão ao patamar superior através do 'baptismo', como se fosse a purificação final.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Canto VI

«Nos altíssimos mares, que cresceram,»

«Vendo que se sustém nas ondas tanto.»

«Quase toda alagada; a gente chama»

«As ondas de Neptuno furibundo,»

«No grão dilúvio, donde sós viveram»

Estes são alguns versos do Canto VI, d'Os Lusíadas com alusões à água, nomeadamente a uma tempestade no mar. Nestes versos Camões retrata de forma bela e musical o poder destrutivo da água, conferindo-lhe a sua força, mas sem impressionar demasiado o leitor, isto é, o poeta descreve a tempestade, mostrando quão incontroláveis são as forças da natureza, mas usa figuras de estilo como a perífrase e vocabulário erudito e joga com o ritmo e a rima dos seus versos para atenuar o momento, tornando a tempestade destruidora e magnífica ao mesmo tempo.

domingo, 9 de novembro de 2008

Inconsciente

Estava deitada na minha cama, com a cabeça afundada na minha 'almofada das insónias', a ler um livro, quando oiço as gotas da chuva cair no parapeito da minha janela. Afundei-me mais na almofada e aconcheguei-me nos cobertores. Continuei a ler. No entanto, aquela música líquida captava-me a atenção e introduzia-se na minha mente.
Uma gota bateu com força no parapeito. Mergulhei nela com as restantes gotas da chuva, juntei-as todas e o "ping-ping" deu lugar a um fio contínuo de aguá que corria para o nada. Outra gota, uma imagem em tons de cinzento. A Madalena numa praia deserta, rochosa. O céu estava claro, mas nublado, a areia era branca e contrastava com o negro das rochas, o mar, cujos braços longos beijavam os pés frios da rapariga, rebentava preguiçosamente, criando uma música suave. Madalena cantava baixinho para o mar, pedindo-lhe autorização para entrar nele. Suavemente, este replicou que sim. Madalena avançou então lentamente, murmurando a sua melodia. Já tinha água pela cintura quando parou. Ficou imóvel, de olhos fechados, deixando-se envolver pelo abraço das ondas frias, que aqueciam e lavavam o seu espírito. A sua voz foi ficando mais clara e a sua melodia mais pura. Cantava agora, não para o mar, mas o mar. E nisto, transformou-se em espuma e eu adormeci.

sábado, 8 de novembro de 2008

A Alma do Índio



Foi há algumas aulas atrás que a professora de português levou um pequeno, e no entanto, grande livro intitulado A alma do Índio. Leu-nos um excerto desse mesmo livro, como costuma fazer no início das suas aulas, uma carta escrita por Seattle, chefe índio da tribo Dawmish, ao Governador de Washington. É uma carta maravilhosa, de uma sabedoria e sensibilidade extraordinárias. À medida que a professora ia lendo o texto, apoderou-se de mim o impulso de querer possuir aquele livro, para o ler infinitamente, infinitas vezes. E foi isso mesmo que fiz. Comprei-o há uma semana e ontem comecei e acabei de o ler. Foi surreal. Senti cada palavra, cada lamentação, cada suspiro, cada desilusão, toda a esperança e fé contida em cada discurso daqueles chefes índios.
A carta que se enquadra melhor no meu trabalho é a mesma lida pela professora, pois evoca os elementos de forma simbólica. No entanto, publicarei, não apenas as citações relacionadas com a água, mas toda a carta, pois contém uma mensagem muito bela e muito forte. Uma mensagem para reflectir.


«Como se pode comprar ou vender o firmamento, ou ainda o calor da terra?
Tal ideia ainda é um mistério para nós.
Se não somos donos da frescura do ar nem do fulgor das águas, como podereis vós comprá-los?
Cada quinhão desta terra é sagrado para o meu povo.
Cada reluzente floresta de pinheiros, cada grão de areia nas praias, cada gota de orvalho nos escuros bosques, cada outeiro e até o zumbido de cada insecto é sagrado para a memória e para o passado do meu povo. A seiva que corre nas veias das árvores leva juntamente consigo a memória dos Peles Vermelhas.
Os mortos do Homem Branco esquecem-se do seu país natal quando empreendem as suas viagens pelo meio das estrelas; ao contrário, os nossos mortos nunca podem esquecer-se desta bondosa terra pois ela é a mãe dos Peles Vermelhas.
Somos parte da Terra e do mesmo modo ela é parte de nós próprios. As flores perfumadas são nossas irmãs, o veado, o cavalo, a grande águia são nossos irmãos; as rochas escarpadas, os húmidos prados, o calor do corpo do cavalo e do homem, todos fazemos parte desta grande família.
Por todas estas razões, quando o Grande Chefe de Washington nos faz chegar a mensagem de que quer comprar as nossas terras, está a pedir-nos demasiado. O Grande Chefe diz-nos, também, que nos reservará um lugar em que possamos viver confortavelmente uns com os outros. Ele passará, então, a ser o nosso pai e nós os seus filhos. Por este motivo, ponderaremos a sua oferta de comprar as nossas terras. Isto não será fácil, uma vez que esta terra é sagrada para nós.
A água cristalina que corre nos rios e ribeiros não é apenas água: simboliza também o sangue dos nossos antepassados
Se vos vendermos a terra, devereis recordar-vos que ela é sagrada e, ao mesmo tempo, ensinar aos vossos filhos que ela é sagrada e que cada reflexo nas límpidas águas dos lagos narra os acontecimentos e memórias das vidas das nossas gentes.
O murmúrio da água é a voz do meu pai.
Os rios são nossos irmãos e saciam a nossa sede; são sulcados pelas nossas canoas e alimentam os nossos filhos. Se vos vendermos a terra, devereis recordar-vos e ensinar aos vossos filhos que os rios são nossos irmãos e, do mesmo modo, também são seus irmãos, e que, portanto, devem cuidar deles com a mesma doçura com que se cuida de um irmão.
Sabemos que o Homem Branco não compreende o nosso modo de vida. Ele não saber distinguir um pedaço de terra de outro, porque ele é um forasteiro que chega de noite e retira da terra o que necessita. A terra não é sua irmã, mas sim sua inimiga e, uma vez conquistada, ele prossegue o seu caminho, deixando atrás de si a sepultura de seus pais, sem se importar com isso!
Rouba a terra aos seus filhos: também não se preocupa! Tanto a sepultura dos seus pais como o património dos seus filhos são esquecidos. Trata a sua mãe, a Terra, e o seu irmão,o Firmamento, como objectos que se compram, se exploram e se vendem da mesma forma que se vendem ovelhas ou contas coloridas. O seu apetite devorará a terra deixando atrás de si apenas o deserto.
Não compreendo, mas a nossa maneira de viver é diferente da vossa. Só de observar as vossas cidades entristecem-se os olhos do Pele Vermelha. Mas talvez seja porque o Pele Vermelha é um selvagem e não percebe nada.
Não existe um lugar tranquilo nas cidades do Homem Branco, não há sítio onde escutar como desabrocham as folhas das árvores na Primavera ou como esvoaçam os insectos.
Mas talvez isto também suceda porque sou um selvagem que não compreende nada. Basta o ruído para insultar os nossos ouvidos. Depois de tudo, que interesse tem a vida se o homem não puder escutar o grito solitário do noitibó nem o coaxar nocturno das rãs nas margens dum charco? Sou Pele Vermelha e nada entendo. Nós preferimos o suave sussurrar do vento sobre a superfície dum charco, assim como o cheiro desse mesmo vento purificado pela chuva do meio-dia ou perfumado com o aroma dos pinheiros.
O ar tem um valor inestimável para o Pele Vermelha, uma vez que todos os seres partilham um mesmo fôlego - o animal, a árvore, o homem, todos respiramos o mesmo ar.
O Homem Branco não parece estar consciente do ar que respira; tal como um moribundo que agoniza durante muitos dias é insensível ao mau cheiro.
Mas se vos vendermos as nossas terras, devereis recordar-vos que o ar é, para nós, precioso, que o ar partilha o seu espírito com a vida que mantém. O vento, que deu aos nossos avós o primeiro sopro de vida, também acolhe os seus últimos suspiros. E, se vos vendermos as nossas terras, devereis preservá-las como coisa à parte e sagrada, como um lugar onde até o Homem Branco poderá deleitar-se com o vento perfumado pelas flores das pradarias.
Por tudo isso, consideraremos a vossa oferta de comprar as nossas terras. Se decidirmos aceitá-la, estabelecerei uma condição: o Homem Branco deverá tratar os animais desta terra como seus irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo outro modo de vida. Tenho visto milhares de bisontes a apodrecer nas pradarias, mortos a tiro pelo Homem Branco, da janela de um comboio em andamento.
Sou um selvagem e não concebo como é que uma máquina fumegante pode ser mais importante que um bisonte que nós só matamos para sobreviver.
Que seria do homem sem os animais? Se todos fossem exterminados, o homem também morreria de uma grande solidão espiritual. Porque o que suceder aos animais também sucederá ao homem. Tudo está ligado.
Deveis ensinar aos vossos filhos que o solo que pisam é formado pelas cinzas dos nossos avós. Ensinai aos vossos filhos que a terra está enriquecida com as vidas dos nossos semelhantes, para que saibam respeitá-la. Ensinai aos vossos filhos aquilo que nós temos ensinado aos nossos, que a terra é nossa Mãe. Tudo quanto acontecer à terra sucederá aos filhos da terra. Quando os homens cospem na terra, estão a cuspir em si próprios.
De uma coisa estamos certos: a terra não pertence ao homem; é o homem que pertence à terra. isto sabemos. Tudo está ligado, como o sangue que une uma família. Tudo está ligado. Tudo o que acontece à terra acontecerá aos filhos da terra. O homem não teceu a rede da vida, ele é só um dos seus fios.
Aquilo que ele fizer à rede da vida, ele fará a si próprio.
Nem mesmo o Homem Branco, cujo Deus passeia e fala como ele de amigo para amigo, fica livre do destino comum.



POR FIM TALVEZ SEJAMOS IRMÃOS.




Veremos isso. Sabemos uma coisa que talvez o Homem Branco descubra um dia: o nosso Deus é o mesmo Deus. vós podeis pensar nesta altura que Ele vos pertence, do mesmo modo como desejais que as nossas terras vos pertençam; porém não é assim. Ele é Deus dos homens e a Sua compaixão reparte-se por igual entre o Pele Vermelha e o Homem Branco. Esta terra tem um valor inestimável para Ele, e, se a destruirmos, isso provocará a ira do Criador. Também os Brancos se extinguirão um dia, talvez antes que as demais tribos. Contaminai os vossos leitos e uma noite morrereis afogados nos vossos próprios detritos.
Contudo, vós caminhareis para a vossa destruição repletos e glória, inspirados pela força do Deus que vos guiou a esta terra e que, por algum desígnio superior, vos deu domínio sobre ela e sobre os Peles Vermelhas. Esse destino é um mistério para nós, pois não percebemos porque se exterminam os bisontes, se domam os cavalos selvagens, se saturam os mais escondidos recantos dos bosques com a respiração de tantos homens e se mancha a paisagem das exuberantes colinas com fios de telégrafo. Onde se encontra o matagal? Destruído! Onde está a águia? Desapareceu!




TERMINA A VIDA E COMEÇA A SOBREVIVÊNCIA! »






quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Mensagem - Mar português

«Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar! »

«Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu. »

Este poema da Mensagem comemora o mar e, logo, a água. É uma "comemoração depreciativa", isto é, este poema aborda o quão perigoso é o mar: «Deus ao mar o perigo e o abismo deu,» e das tristezas que este causa: «Ó mar salgado, quanto do teu sal/São lágrimas de Portugal!». O poder destrutivo da água está aqui implicito, quer físico, nos naufrágios, quer nas suas consequências, a destruição das almas, a desolação das mães, dos filhos e das noivas. Ainda assim, o poeta afirma que vale a pena passar esta prova, cruzar os mares, pois quem o faz ultrapassa obstáculos físicos (o Cabo Bojador) e psicológicos (a dor).

Canto III - Episódio de Inês de Castro

«Nem com lágrimas tristes se mitiga »



«Com lágrimas, os olhos piedosos »



«Onde em lágrimas viva eternamente »



«As espadas banhando e as brancas flores*,
Que ela dos olhos seus regadas tinha
(tinha as maçãs do rosto molhadas com lágrimas)




«As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,

Que lágrimas são água e o nome Amores.»





Este episódio está repleto de alusões à água sobre a forma de lágrimas. Logicamente, encontramos aqui o carácter sensível da água, ou seja, esta é utilizada para dramatizar a cena e emocionar o receptor. No entanto, no final do episódio, a água assume a sua faceta de regeneração e purificação, em : «E, por memória eterna, em fonte pura/As lágrimas choradas transformaram.» e «Vede que fresca fonte rega as flores,».
Desta forma, Camões leva-nos a sentir compaixão por Inês, o oposto daquilo que o povo português sentiu no momento.
Penso que neste episódio há uma leve crítica quanto à conduta do povo lusitano, de como este influenciou negativamente o rei, pressionando-o a condenar D. Inês à morte. Mostra que a força de um país reside não só no rei, mas no povo unido. Por outro lado, e de forma mais evidente, este episódio exalta o amor de Pedro e Inês, que se tornou num símbolo da nossa história.
______
*maçãs do rosto

domingo, 26 de outubro de 2008

Na passada quarta-feira, dia 22 de Outubro, fui a uma visita de estudo onde a água esteve constantemente presente. A visita, ou melhor, as visitas decorreram na Baixa de Lisboa.
Apanhei o metro em Telheiras, ainda com um rasto de sono a pesar-me nas pálpebras. Não entraram muitas pessoas comigo no comboio, de modo que durante o trajecto até à estação seguinte fui sendo embalada com os abanões da carruagem, enquanto que o choro do metal que esta fazia ia ficando longe, longe, cada vez mais longe. Devo ter dormitado durante uns segundos, mas rapidamente acordei, mal as portas do metro abriram no Campo Grande e uma enchente de pessoas entrou aos tropeções e empurrões, ávidas por um lugar sentado. Num segundo, os três bancos livres junto ao meu estavam tomados. Foi então que resolvi entrar na minha bolha e ouvir a minha música. Quando liguei o mp3 estava a tocar uma música (que eu uso para fazer reiki ou yoga e relaxar) que começa com o enrolar suave das ondas, continuando com o que parece ser o som de gotas a cair sob um lago. Esta música tem a duração de 60min., por isso durou a viagem toda.Quando dei por mim, estava fora do comboio a dirigir-me para a saída da estação. Como só me consigo orientar à superfície subi as primeiras escadas que vi. Que diferença! Os meus olhos semi-cerraram-se com a luz brilhante do sol e o meu corpo encolheu-se com o frio. Olhei ao meu redor e percebi que estava na Praça da Figueira. «Agora por onde é que vou para chegar ao Terreiro do Paço? Pensa... O rio! Procura o rio.» E foi isso que eu fiz, pus-me em meias-pontas e procurei as águas do Tejo. E lá estavam elas entre dois prédios. «É por ali.» Atravessei a praça da Figueira e comecei a descer a rua.
Uma das coisas que eu mais gosto é de andar sozinha na rua. Assim, posso fazer as figuras tontas que tiver de fazer para chegar ao meu destino sem ninguém se sentir embaraçado e pelo caminho descubro coisas novas.
Desta vez resolvi andar aos zigue-zagues até encontrar a Rua Augusta e passei por tantas lojas, por tantos cheiros. Uma das ruas cheirava a detergente contrastado com o cheiro do lixo; outra, por ter tanta afluência, cheirava a pessoas; outra a castanhas quentinhas.
Finalmente, cheguei ao Terreiro do Paço. Vi alguns dos meus colegas ao longe e juntei-me a eles. O resto da turma e professores começaram a chegar e eu mal pude apreciar o reflexo dourado do sol nas águas azul-prateadas do rio. Reunimo-nos e fomos todos para a entrada do Pátio da Galé, onde entrámos para comprar os bilhetes para a exposição sobre o terramoto de 1755 e a reconstrução da Baixa de Lisboa.
A primeira sala focava o contexto histórico do incidente, mostrando pinturas e gravuras do antigo Terreiro do Paço, um local amplo junto ao rio, onde se juntavam as pessoas para estabelecer relações quer sociais, quer comerciais. Também mostrava gravuras sobre engenharia e geometria que se praticava na época pelos engenheiros militares. Na sala seguinte vimos alguns exemplos de outras cidades também reconstruídas e as semelhanças e diferenças que têm com o caso de Lisboa. Um pouco à frente estava a maqueta da cidade de Lisboa pré-terramoto. Nesta vimos como a cidade, já naquela altura, era grande e como as casas formavam ruas que pareciam pequenas ramificações de um rio que iam desaguar ao Terreiro do Paço, de cara para o Tejo.
De seguida, passámos para a destruição da cidade: primeiro o terramoto, que deu origem a um maremoto e, por fim, o incêndio. Pelas paredes havia diversas gravuras: umas da onda gigantesca a cair sobre a cidade, os barcos no rio balançando a ritmo incerto, outras do incêndio a consumir os edifícios e ainda outras com as ruínas, com mortos pelo chão, todos amontoados.
Os espaços seguintes mostram já os planos de construção, as ideologias, os requisitos obrigatórios para a planificação da Baixa, as grandes figuras (D. José I, Marquês de Pombal, Eugénio dos Santos, Manuel da Maia, Carlos Mardel), a 'caixa negra', que simboliza os dois anos de negociações a portas fechadas, ou seja, todo o caminho percorrido até a Baixa Pombalina estar concluída.
As últimas salas correspondiam à Baixa nos tempos mais recentes e à última remodelação que esta sofreu, após o incêndio nos Armazéns do Chiado que foram reconstruídos pelo Siza Vieira em 2004.
Concluindo, a exposição estava muito interessante e bem concebida, com muitas gravuras, pinturas, textos de apoio e citações elucidativas, sendo bastante interactiva.
E acabado este capítulo fomos todos a caminho do almoço. apanhámos o eléctrico até Belém, pois a nossa próxima visita de estudo era no Padrão dos Descobrimentos, almoçámos rapidamente e percorremos os jardins do Jerónimos, repletos de pequenos lagos artificiais e fontes até chegarmos ao Padrão, mesmo junto ao rio. Mais uma vez reunimo-nos, comprámos os bilhetes e entrámos para ver um filme sobre a cidade de Lisboa, que está intimamente ligada ao rio e ao mar, por causa da sua posição geográfica, por ser o centro de Portugal e, outrora, do mundo e por causa dos Descobrimentos. Neste filme também foi referida a Expo98, realizada na zona Oriental de Lisboa, que fez um tributo à água, e ainda hoje é visível esse mesmo tributo nos jardins, no parque da água, no centro comercial Vasco da Gama, na pala do Pavilhão de Portugal, o Lago das Tágides, entre outros.
Acabado o filme chega a hora das despedidas e para a acabar em beleza, mais um fenómeno aquático : chuva! Pingou durante uns instantes e o sol desapareceu, o vento estava mais forte e frio e as águas do Tejo, em consonância com este tempo mais duro, mostraram-se num cinzento metalizado.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Canto I

«Por mares nunca dantes navegados»

«E vós, Tágides minhas, pois criado»

«Foi de mi vosso rio alegremente,»

«Por que de vossas águas Febo ordene»

«Almeidas, por quem sempre o Tejo chora

« De África as terras e do Oriente os
mares.»

«Que são vistos de vós no mar irado;»

«Já no largo Oceano navegavam,
As inquetas ondas apartando;»

«Da branca escuma os mares se mostravam»

«As marítimas águas consegradas,»

«De quantos bebem a água de Parnaso;»

«De água do esquecimento, se lá chegam»

«Quando o mar descobrindo lhe mostrava»

«Da âncora o mar ferido, em cima salta.»

«De todos os que as ondas navegamos,»

«Pelas argênteas ondas neptuninas»

«Por lhe defender a água desejada,»

....

domingo, 12 de outubro de 2008

Simbolismo da água

Intento com este blog relacionar diversas obras literárias com a água, no âmbito da disciplina de português. Este irá conter excertos de vários livros, dando especial atenção a’Os Lusíadas, de Camões, e à Mensagem, de Fernando Pessoa. Deste modo, por que não começar por explicar o que se entende por água como símbolo?
Segundo o Dicionário de Símbolos e Imagens Oníricas, podemos separar o simbolismo da água em três vertentes: a água como fonte de vida, como meio de purificação e como meio de regeneração. Portanto, nestes t`rês temas, a água tem uma conotação positiva.
Podemos também associá-la ao nascimento, à fertilidade e ao feminino (mãe), à espiritualidade, ao conhecimento e à origem. Também se relaciona este símbolo às emoções, à felicidade, amor, desejos e sensibilidade. Pode também identificar-se com a intuição, o inconsciente e com a meditação: «o acto de mergulhar no inconsciente».

Em contradição, a água também pode significar a destruição: «a água desmorona e corrói, levando embora até mesmo a mais dura pedra».

Dicionário de símbolos e imagens Oníricas, consultado em: http://www.salves.com.br/dicsimb/dicsimbindex.htm