sábado, 13 de março de 2010

Desalento

Gordas são as lágrimas que rolam pelo meu rosto... Rolam em desalento, caindo nas fotocópias sobre netsuke ou no prato da tarte de maçã.
Como é possível chorar tanto... Choro há mais de um ano, desolada e inconsolável. Escondo o que me faz chorar do mundo, fujo das pessoas e venho sentar-me aqui, junto à minha janela, a olhar para o céu e choro.
Gritos mudos ecoam na minha cabeça. Gritos de dor ressoam consonantes com o bater do meu coração contraído, que embora tenha passado por muito mais que muitos outros continua resistente. Isto porque, por mais que o tente evitar, escolho sempre o caminho mais penoso para me libertar. E assim sinto-me definhar aos poucos, sinto subtraírem-se os dias do amor, da paixão, da felicidade, assim como as memórias que os acompanham... um por um vão desaparecendo, deixando um vazio que murmura, que implora por ser preenchido. Mas está tudo tão longe... O passado não o alcanço, e o futuro nem se avista. Até o presente está deslocado de mim. Estou num espaço e num tempo que não consigo explicar, mas que nada nem ninguém consegue chegar. E logo agora que preciso de ser salva.... Logo agora que choro, que estou vazia, que estou só.