quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Mensagem - Mar português

«Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar! »

«Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu. »

Este poema da Mensagem comemora o mar e, logo, a água. É uma "comemoração depreciativa", isto é, este poema aborda o quão perigoso é o mar: «Deus ao mar o perigo e o abismo deu,» e das tristezas que este causa: «Ó mar salgado, quanto do teu sal/São lágrimas de Portugal!». O poder destrutivo da água está aqui implicito, quer físico, nos naufrágios, quer nas suas consequências, a destruição das almas, a desolação das mães, dos filhos e das noivas. Ainda assim, o poeta afirma que vale a pena passar esta prova, cruzar os mares, pois quem o faz ultrapassa obstáculos físicos (o Cabo Bojador) e psicológicos (a dor).

Canto III - Episódio de Inês de Castro

«Nem com lágrimas tristes se mitiga »



«Com lágrimas, os olhos piedosos »



«Onde em lágrimas viva eternamente »



«As espadas banhando e as brancas flores*,
Que ela dos olhos seus regadas tinha
(tinha as maçãs do rosto molhadas com lágrimas)




«As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,

Que lágrimas são água e o nome Amores.»





Este episódio está repleto de alusões à água sobre a forma de lágrimas. Logicamente, encontramos aqui o carácter sensível da água, ou seja, esta é utilizada para dramatizar a cena e emocionar o receptor. No entanto, no final do episódio, a água assume a sua faceta de regeneração e purificação, em : «E, por memória eterna, em fonte pura/As lágrimas choradas transformaram.» e «Vede que fresca fonte rega as flores,».
Desta forma, Camões leva-nos a sentir compaixão por Inês, o oposto daquilo que o povo português sentiu no momento.
Penso que neste episódio há uma leve crítica quanto à conduta do povo lusitano, de como este influenciou negativamente o rei, pressionando-o a condenar D. Inês à morte. Mostra que a força de um país reside não só no rei, mas no povo unido. Por outro lado, e de forma mais evidente, este episódio exalta o amor de Pedro e Inês, que se tornou num símbolo da nossa história.
______
*maçãs do rosto

domingo, 26 de outubro de 2008

Na passada quarta-feira, dia 22 de Outubro, fui a uma visita de estudo onde a água esteve constantemente presente. A visita, ou melhor, as visitas decorreram na Baixa de Lisboa.
Apanhei o metro em Telheiras, ainda com um rasto de sono a pesar-me nas pálpebras. Não entraram muitas pessoas comigo no comboio, de modo que durante o trajecto até à estação seguinte fui sendo embalada com os abanões da carruagem, enquanto que o choro do metal que esta fazia ia ficando longe, longe, cada vez mais longe. Devo ter dormitado durante uns segundos, mas rapidamente acordei, mal as portas do metro abriram no Campo Grande e uma enchente de pessoas entrou aos tropeções e empurrões, ávidas por um lugar sentado. Num segundo, os três bancos livres junto ao meu estavam tomados. Foi então que resolvi entrar na minha bolha e ouvir a minha música. Quando liguei o mp3 estava a tocar uma música (que eu uso para fazer reiki ou yoga e relaxar) que começa com o enrolar suave das ondas, continuando com o que parece ser o som de gotas a cair sob um lago. Esta música tem a duração de 60min., por isso durou a viagem toda.Quando dei por mim, estava fora do comboio a dirigir-me para a saída da estação. Como só me consigo orientar à superfície subi as primeiras escadas que vi. Que diferença! Os meus olhos semi-cerraram-se com a luz brilhante do sol e o meu corpo encolheu-se com o frio. Olhei ao meu redor e percebi que estava na Praça da Figueira. «Agora por onde é que vou para chegar ao Terreiro do Paço? Pensa... O rio! Procura o rio.» E foi isso que eu fiz, pus-me em meias-pontas e procurei as águas do Tejo. E lá estavam elas entre dois prédios. «É por ali.» Atravessei a praça da Figueira e comecei a descer a rua.
Uma das coisas que eu mais gosto é de andar sozinha na rua. Assim, posso fazer as figuras tontas que tiver de fazer para chegar ao meu destino sem ninguém se sentir embaraçado e pelo caminho descubro coisas novas.
Desta vez resolvi andar aos zigue-zagues até encontrar a Rua Augusta e passei por tantas lojas, por tantos cheiros. Uma das ruas cheirava a detergente contrastado com o cheiro do lixo; outra, por ter tanta afluência, cheirava a pessoas; outra a castanhas quentinhas.
Finalmente, cheguei ao Terreiro do Paço. Vi alguns dos meus colegas ao longe e juntei-me a eles. O resto da turma e professores começaram a chegar e eu mal pude apreciar o reflexo dourado do sol nas águas azul-prateadas do rio. Reunimo-nos e fomos todos para a entrada do Pátio da Galé, onde entrámos para comprar os bilhetes para a exposição sobre o terramoto de 1755 e a reconstrução da Baixa de Lisboa.
A primeira sala focava o contexto histórico do incidente, mostrando pinturas e gravuras do antigo Terreiro do Paço, um local amplo junto ao rio, onde se juntavam as pessoas para estabelecer relações quer sociais, quer comerciais. Também mostrava gravuras sobre engenharia e geometria que se praticava na época pelos engenheiros militares. Na sala seguinte vimos alguns exemplos de outras cidades também reconstruídas e as semelhanças e diferenças que têm com o caso de Lisboa. Um pouco à frente estava a maqueta da cidade de Lisboa pré-terramoto. Nesta vimos como a cidade, já naquela altura, era grande e como as casas formavam ruas que pareciam pequenas ramificações de um rio que iam desaguar ao Terreiro do Paço, de cara para o Tejo.
De seguida, passámos para a destruição da cidade: primeiro o terramoto, que deu origem a um maremoto e, por fim, o incêndio. Pelas paredes havia diversas gravuras: umas da onda gigantesca a cair sobre a cidade, os barcos no rio balançando a ritmo incerto, outras do incêndio a consumir os edifícios e ainda outras com as ruínas, com mortos pelo chão, todos amontoados.
Os espaços seguintes mostram já os planos de construção, as ideologias, os requisitos obrigatórios para a planificação da Baixa, as grandes figuras (D. José I, Marquês de Pombal, Eugénio dos Santos, Manuel da Maia, Carlos Mardel), a 'caixa negra', que simboliza os dois anos de negociações a portas fechadas, ou seja, todo o caminho percorrido até a Baixa Pombalina estar concluída.
As últimas salas correspondiam à Baixa nos tempos mais recentes e à última remodelação que esta sofreu, após o incêndio nos Armazéns do Chiado que foram reconstruídos pelo Siza Vieira em 2004.
Concluindo, a exposição estava muito interessante e bem concebida, com muitas gravuras, pinturas, textos de apoio e citações elucidativas, sendo bastante interactiva.
E acabado este capítulo fomos todos a caminho do almoço. apanhámos o eléctrico até Belém, pois a nossa próxima visita de estudo era no Padrão dos Descobrimentos, almoçámos rapidamente e percorremos os jardins do Jerónimos, repletos de pequenos lagos artificiais e fontes até chegarmos ao Padrão, mesmo junto ao rio. Mais uma vez reunimo-nos, comprámos os bilhetes e entrámos para ver um filme sobre a cidade de Lisboa, que está intimamente ligada ao rio e ao mar, por causa da sua posição geográfica, por ser o centro de Portugal e, outrora, do mundo e por causa dos Descobrimentos. Neste filme também foi referida a Expo98, realizada na zona Oriental de Lisboa, que fez um tributo à água, e ainda hoje é visível esse mesmo tributo nos jardins, no parque da água, no centro comercial Vasco da Gama, na pala do Pavilhão de Portugal, o Lago das Tágides, entre outros.
Acabado o filme chega a hora das despedidas e para a acabar em beleza, mais um fenómeno aquático : chuva! Pingou durante uns instantes e o sol desapareceu, o vento estava mais forte e frio e as águas do Tejo, em consonância com este tempo mais duro, mostraram-se num cinzento metalizado.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Canto I

«Por mares nunca dantes navegados»

«E vós, Tágides minhas, pois criado»

«Foi de mi vosso rio alegremente,»

«Por que de vossas águas Febo ordene»

«Almeidas, por quem sempre o Tejo chora

« De África as terras e do Oriente os
mares.»

«Que são vistos de vós no mar irado;»

«Já no largo Oceano navegavam,
As inquetas ondas apartando;»

«Da branca escuma os mares se mostravam»

«As marítimas águas consegradas,»

«De quantos bebem a água de Parnaso;»

«De água do esquecimento, se lá chegam»

«Quando o mar descobrindo lhe mostrava»

«Da âncora o mar ferido, em cima salta.»

«De todos os que as ondas navegamos,»

«Pelas argênteas ondas neptuninas»

«Por lhe defender a água desejada,»

....

domingo, 12 de outubro de 2008

Simbolismo da água

Intento com este blog relacionar diversas obras literárias com a água, no âmbito da disciplina de português. Este irá conter excertos de vários livros, dando especial atenção a’Os Lusíadas, de Camões, e à Mensagem, de Fernando Pessoa. Deste modo, por que não começar por explicar o que se entende por água como símbolo?
Segundo o Dicionário de Símbolos e Imagens Oníricas, podemos separar o simbolismo da água em três vertentes: a água como fonte de vida, como meio de purificação e como meio de regeneração. Portanto, nestes t`rês temas, a água tem uma conotação positiva.
Podemos também associá-la ao nascimento, à fertilidade e ao feminino (mãe), à espiritualidade, ao conhecimento e à origem. Também se relaciona este símbolo às emoções, à felicidade, amor, desejos e sensibilidade. Pode também identificar-se com a intuição, o inconsciente e com a meditação: «o acto de mergulhar no inconsciente».

Em contradição, a água também pode significar a destruição: «a água desmorona e corrói, levando embora até mesmo a mais dura pedra».

Dicionário de símbolos e imagens Oníricas, consultado em: http://www.salves.com.br/dicsimb/dicsimbindex.htm