segunda-feira, 4 de maio de 2009

Escrever-Escrevo-Escreve

[Escrevo para] «tentar entender, e porque não tenho nada melhor para fazer». Esta foi a frase captada pela Folha de São Paulo, um jornal brasileiro a 4 de Fevereiro de 2007, numa entrevista feita a Saramago pela Efe. No entanto, no Memorial do Convento o narrador (e, portanto, o autor) informa-nos que escreve para dar voz aos oprimidos, aos que não são mencionados nos livros de história.
Escreveu, então, uma estória, porque não tem outra coisa melhor para fazer a não ser utilizar a sua imaginação e arte 'prosaico-lírica' para tentar entender o mundo que o rodeia, estabelecer uma ponte entre o passado e o presente e fazer uma apreciação crítica e pessoal, por meio de uma personalidade complexa que humilha inteligentemente e implacavelmente aqueles por quem nutre antipatia ou cuja maneira de estar no mundo o incomoda e simpático para os que pensa merecerem mais do que têm, ou seja, os oprimidos, os que trabalham durante a vida inteira, passando por muitas privações e necessidades sem serem devidamente valorizados, ficando apenas escrito na nossa memória, a História, o nome daquele para qual trabalharam que, no caso do Memorial do Convento, será o rei D. João V. Desta feita, Saramago faz uma lista de Antónios, Bernardos, Carlos, Dionísios, Estevãos, Fernandos, Guilhermes, Hugos, Ipólitos, Joaquins, Luíses, Manéis, Natércios, Óscares, Paulos, Ricardos, Sérgios, Tiagos, Urbanos, Vicentes, Xavieres e Zacarias além de acompanhar a vida de Baltasar e Blimunda, apresentando os heróis da história e da estória e o quadro social da época, fazendo, de certa forma, alguns paralelismos com o presente (que pela data da criação da obra já é passado, mas que continua e continuará, decerto, actual porque os tempos mudam, a civilização progride científica e tecnologicamente, artisticamente e culturalmente assim como a mentalidade também evolui [embora muito lentamente]. Mas existe uma massa de valores 'inconscientes' tendenciais, como a exploração, discriminação social, falta de respeito [tanto pelo próprio como pelo outro], recorrência à violência física e verbal e tantos outros que resistem ao tempo cronológico e à história e por isso, serão sempre assunto de reflexão e, em Saramago, de ficção reflexiva).
A meu ver, Saramago não fala porque prefere escrever e assim, fazer passar as suas crenças e posições de forma directa, mas subtil, através dos romances e do seu carismático narrador. Fá-lo para entender e para que entendam, introduzindo valores e críticas em textos que a pessoas tenham prazer em ler. Assim, desabafa e talvez, eduque quem o lê, ao fazer com que as pessoas leiam e releiam as longas e belas frases, umas porque delas perderam o sentido e outras porque gostam de saborear o belo, ainda assim lêem e talvez, mas só talvez, porque provavelmente eu e outros tantos leitores somos excepção, pensem no que foi escrito.
(Esta ideia poderia continuar a ser desenvolvida, como muitas outras presentes neste blog, mas por agora, fica/ficam por aqui. Pergunto-me como abordarei estas questões daqui a uns tempos, quando tiver mais experiência de vida).

1 comentário:

Anónimo disse...

Madalena:
Não tenho reparos a fazer a este teu trabalho individual; todos os tópicos de avaliação estão muito bons, desde o tratamento do programa à relação com o quotidiano, a qualidade e aprofundamento do teu texto, a forma pessoal e original das reflexões, que, não deixando de ser pessoais, são profundas e bastante universais. Apenas posso encorajar-te a continuar, para tua aprendizagem e crescimento(aprende-se muito, assim, como penso que tu tens verificado e um dia ainda melhor compreenderás) e de quem te ler. É muito bom, para o professor, quando vê que o aluno percebe o interesse de um trabalho e agarra a oportunidade com entusiasmo.