quinta-feira, 28 de maio de 2009

Palavras

Falamos pela mesma razão que transpiramos?
O ser humano fala porque necessita de comunicar e, de facto, existem pessoas que falam pela mesma razão que transpiram, para se sentirem equilibradas, por isso, falam 'pelos cotovelos'. Exprimem tudo por tudo e por nada, para se sentirem harmonizadas consigo e com os restantes. Não sei se para essas pessoas as palavras têm algum significado pois elas pronunciam tantas e com uma facilidade tal que não entendo até que ponto pensam nelas.



Para que servem as palavras?

«São como um cristal,

as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparados, inocentes,

leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
creis, desfeitas,
nas suas conchas puras?»
Eugénio de Andrade, 'As Palavras' in Até amanhã

As palavras servem para elogiar, ferir, encorajar, saborear, visualizar. Servem para serem pronunciadas, provocando o efeito que o orador deseja. Se devem ser pronunciadas? Provavelmente não. Por vezes, há que deixar o silêncio falar.

As palavras têm impacto?

Têm para quem as quer ouvir e sentir porque quem não quiser facilmente cria uma barreira contra as mesmas.

Até quando são válidas?

Penso que são válidas até deixarem de ter fundamento, até serem proferidas sem sentido ou para o mal, pois as palavras existem num contexto e se esse contexto for válido, então as palavras também o são, se assim não for, as palavras perdem peso, ainda que o receptor sinta o impacto das mesmas, o que é um tema à parte, porque a validade tem de ser entendida pela razão e o impacto está implícito no campo da sensibilidade.

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