segunda-feira, 25 de maio de 2009

"Faiz favô di sê felizes!"

Quando li que Blimunda tinha caído doente sem razão aparente lembrei-me de imediato da doença da alma. A doença da alma é causada por acontecimentos ou momentos da nossa vida que não conseguimos gerir, sentimentos e emoções que por serem tão fortes ou marcantes nos estafam de tal modo que a alma fica apática e a vontade de viver perde-se nessa apatia densa. Assim, uns dormem enquanto a vida passa e outros mantêm-se acordados olhando e não vendo que a vida se lhes escapa à frente dos olhos.
Blimunda foi curada com a música de Scarlatti. E por que razão foi curada pela música? Porque a música fala connosco, transmite-nos emoções e por isso curou Blimunda, visto que se uma alma apática não sente, quando invadida por emoções é brusca, mas prazenteiramente acordada. A música tocada por Scarlatti no seu cravo, que tem um timbre tão característico, tão requintado, sussurrou aos ouvidos de Blimunda e entrou sorrateiramente na sua alma gerando nela emoções que dispersaram a névoa da apatia e revelaram a vontade, uma vontade renovada que surge mais viva que antes.
Se ao menos todos os males da alma fossem curados exclusivamente com música, penso que seríamos todos felizes. E por que não? Por que não somos curados com música? Porque Blimunda, ao contrário de nós, era sensível e permeável ao que lhe transmitiam, enquanto que nós, em antítese, barramos as experiências sensoriais porque não temos tempo. A sociedade de consumo não nos permite sentir a beleza das coisas porque não nos dá tempo para parar, não há silêncio, não há vazio exterior, só frenesim, bombardeamento publicitário, vender e comprar, o que resulta no raquitismo da alma.
Sejam saudáveis e permitam-se sentir e permitam-se sentir para serem saudáveis e, como já ouvi e referi no título, "Faiz favô di sê felizes!"

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