quarta-feira, 22 de abril de 2009

A matéria e o sonho




«Agora avançam os carpinteiros, com maços, trados e formões (...)»
Saramago, José. Memorial do Convento

Assim foi o passado Sábado na sede dos escoteiros. Logo de manhã, pegámos nos serrões, machados, formões e grosas e, até ao fim da tarde erguemos uma estrutura, um segundo andar que faz lembrar a casa da árvore, porque alguns toros ainda babam seiva cor de mel e cheiram a verde. Mas esta construção semelhante à do convento de Mafra, sólida, maciça e perene representa outra ainda maior, a da passarola, do sonho tornado realidade. Este sonho, pelo menos como eu o vejo e sinto, é a construção de um grupo digno de ser chamado escoteiro: íntegro, com pessoas verdadeiras, trabalhadoras, alegres, companheiras, motivadas, respeitadoras, altruístas, enérgicas e com tantos outros adjectivos que vos assaltem a memória quando pensam no escotismo. E se me disserem que o meu sonho é utópico respondo que a construção da passarola também era utópica e Leonardo DaVinci tinha, para os seus contemporâneos, uma imaginação muito fértil ao conceber os estudos para as suas passarolas e, no entanto, a passarola e os esboços de DaVinci passaram a aviões e helicópteros e voaram, passando pelos planos ficcional e fantástico de Saramago.


O meu sonho e ambição por uma sociedade melhor é como a passarola, não só por ser um projecto considerado por muitos impossível, mas também porque tal como a máquina necessita do éter para planar, também a sociedade necessita de se tornar mais etéria e distanciar-se da matéria para evoluir e, se os meus desejos são passarolas, então eu sou o seu DaVinci, o seu arquitecto louco e divagador, divagador, divagador, divagadora. E se divago!

3 comentários:

Vera Beltrão disse...

Madalena obrigada pelos comentários. :)
Adorei este texto e principalmente o último parágrafo. Fico muito contente por ainda existirem pessoas que se preocupem com o futuro da sociedade e do seu conceito. Gostei muito da forma como relacionaste o DaVinci com o Memorial do Convento! :)

Anónimo disse...

Correcção: "etéreo"

Anónimo disse...

Um bom título.