quarta-feira, 22 de abril de 2009

Pontuação

Frase (vírgula) oração (vírgula) oração (ponto)


Assim começa, desenvolve e finaliza Saramago as suas obras, só e apenas com vírgulas e pontos. A consequência superficial desta inovação são páginas pesadas, densamente negras, que eventualmente terão um avanço, um rasgo de branco puro ao centro da página par e outro no fundo da página ímpar. A outra consequência, aquela para quem não é demovido de ler o livro apesar da sua aparência negra, é a de um ritmo de leitura bastante 'rápido', no sentido de se procurar um ritmo oral natural, falado.


São estas palavras que os alunos ouvem naquela sala sem paredes, com tecto frondoso e chão relvado. Os objectivos tiram notas mentais, dactilografando a informação na tábua da memória, secção escolar, alínea português. Os subjectivos pegam no parágrafo e levam-no pela mão para o passeio do inconsciente. Acompanharemos os últimos.

Só e apenas vírgulas e pontos, diz para si, A vírgula e o ponto constituem a base da pontuação. Pode-se tirar tudo, mas não podemos tirar a vírgula e o ponto! Isto porque estão em tudo, encontramos pausas curtas e longas em tudo, a pausa do anúncio da kitkat, o dormir e o antes de acordar, a alternância entre o inspirar e expirar, o pestanejar (vírgulas sucessivas e rápidas), as cadências à dominante e as cadências perfeitas, os goles de água e o último ahhh da garrafa. Tudo tem pausas, até o nosso andar tem um ritmo próprio, pensa para si exaltado, Acho que o meu andar é 'virgulado', porque eu até ando relativamente rápido, já o da minha professora é mais 'pontuado', mais sereno. É, é isso, tenho um andar virgulado, pensa sorrindo para si.


Os companheiros separam-se. O aluno volta para a relva e o parágrafo perde-se nas ruas da memória.

1 comentário:

Anónimo disse...

Excelente reflexão, Madalena! Felicito-te.
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