quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Parvoíce seguida de reflexão

Há uma imensidão de assuntos sobre os quais posso escrever e,talvez por esse motivo, não me consigo focar em nenhum. Desde as injecções de arte ao prémio Nobel do Mr. Obama, passando pela crítica política, são tantos os temas e tanto o que sobre eles há para escrever que sinto uma tensão de forças que correm aleatórias na minha cabeça e não me deixam pensar num só. Ora isso é uma chatice! diz o Tico para o Teco, sem resolverem absolutamente nada. Pois é, estão os dois, o meu Tico e o meu Teco encostados à sombra do meu cabelo a apreciar trocistas o belo caos idiota que deveriam controlar. E agora riem-se! Que engraçadinhos... Acham piada, não é? Ora e se eu decidir mandar-vos passear ao gabinete do Sócrates para verem se ele está a trabalhar e entretanto contratar dois neurónios de intelecto superior?, pausa, Ah! Bem me parecia.
Caros leitores, após este breve aparte, anuncio que estou pronta para começar.
Estando a tirar o curso de História da Arte devo informar-vos que me tornarei cada vez menos objectiva, deliciando-me a enfadar-vos com aqueles pequenos pormenores, aqueles grãozinhos de areia que se instalam entre as pedras que formam os grandes monumentos e que tanto contribuem para a ocupação das gavetinhas celulares do meu cérebro. Tal e qual como os meus professores da faculdade. Quero com isto dizer que são pessoas com um nível de cultura elevado e que, para eles, analisar e contextualizar uma obra é o mesmo que estar recostado num cadeirão a ouvir música e a bebericar vinho tinto. Embebedam-se naquele mundo distante que recriam com os seus vocábulos e vão para muito longe do seu estado sóbrio, objectivo.
Isto tudo para voz dizer que o meu professor de História da Arte da Antiguidade Clássica e Tardia em Portugal recusa-se a dizer que os espanhóis são espanhóis. «Eles são castelhanos» informou-nos ele na última aula, «porque nós somos todos espanhóis.» Tanto os galegos como os portugueses, como os próprios castelhanos, somos todos espanhóis! Isto porque originalmente fomos um povo denominado hispânico e por essa razão somos hispânicos, logo, espanhóis. Mais! O mestre Carriço ainda nos informou de que a nossa península seria hispânica se tal não nos ferisse o ego. Sendo nós, portugueses, tão pequeninos e insignificantezinhos comparados com um Luxemburgo, por exemplo, não poderíamos permitir que nos confundissem com os castelhanos, logo nós que definimos as nossas fronteiras tão cedo e que só por uma vez perdemos a independência, por um acaso do destino, para os reis do território logo ao lado do nosso. Nós não podemos fazer parte d'uma península hispânica! Desta forma, fazemos parte da Península Ibérica, embora tenha sido o povo celta o que ocupou a maior parte do nosso território, quando os seus contemporâneos iberos ocupavam a Espanha.
Então, não somos hispânicos para não nos confundirem com os castelhanos, mas somos iberos, ainda que estes tenham ocupado o território castelhano todo. Conclusão interessante.
De qualquer forma seremos sempre um apêndice inflamado de Espanha, sendo isso visível através do magnífico exemplo americano, cuja população acha que Portugal é uma província de Espanha. Por isso, meus caros patriotas, não vos preocupeis com tais mesquinhices e vede o que se passa nesta crosta com pus que é Portugal e talvez para a próxima votareis com consciência.

1 comentário:

Renato disse...

Embora não concorde lá muito com o teu professor (mas também, quem sou eu para discordar, ele lá há de saber mais do que eu!), acho este teu texto uma coisa maravilhosa. Já to disse mas repito aqui, qué pó mundo ver: super descontraído, divertido, com o mesmo sarcasmo de sempre e, principalmente, com uma escrita invejável. Quem é o escritor aqui, quem é....?

Pelo amor dos deuses, continua!