quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Relatório da Visita de Estudo


Lisboa de Pessoa



A visita começou pelas 15h da tarde quando a turma e os professores se reuniram junto à antiga Loja das Meias, para a Vera apresentar um dos espaços de Fernando Pessoa, a firma 'Lima Mayer & Perfeito de Magalhães' onde trabalhou na rua da Betesga. Seguimos para o Rossio, para o local onde ficava o café 'Irmãos Unidos', onde se encontrava uma pintura de Almada Negreiros que actualmente está na Casa Pessoa e onde Pessoa ia comer, entre outras coisas melão com presunto. Voltámos a relembrar que Carlos Mardel foi o engenheiro que desenhou a Praça do Rossio e podemos verificá-lo através dos telhados à alemã. O professor de geometria falou da história da estátua de D. Pedro IV, que não é dele, ou seja, a figura que está no Rossio corresponde ao imperador Maximiliano, em vez de a D. Pedro IV. Depois fomos ver a Tabacaria Mónaco, que fica na parte ocidental do Rossio, que é conhecida por rua dos cafés. Esta tabacaria tem azulejos que se inserem na Arte Nova ilustrando a fábula da Cegonha e do Sapo/Rã, talha no interior e tecto abobadado, pintado. Também falámos do café Nicola, que já não é o original, assim como as pinturas que estão no seu interior.



Seguimos depois para a Rua Arco da Bandeira. Vimos o animatógrafo, um edifício com características da Arte Nova, nomeadamente a decoração das portas, ondulante, de formas orgânicas e em metal. Nessa rua a Nadine apresentou o restaurante 'O Bacalhoeiro', que antigamente era o café 'Áurea Peninsular' onde Fernando Pessoa se encontrava com Mário Sá-Carneiro. Fomos em direcção à estação do Rossio. Pelo caminho, situámos a antiga Brasileira, que fica num edifício do Milenium e outros cafés. Junto da Estação do Rossio localizámos a casa de Ofélia Queiróz e o Café Martinho, onde Pessoa observava a sua amada. Depois entrámos na estação, na gare e vimos alguns painéis de azulejos de Lima de Freitas, de cariz simbólico, esotérico e nacionalista, à semelhança da Mensagem. Do lado oposto estavam outros painéis de azulejos, estes colocados durante o Estado Novo e homenageavam as indústrias.



Saindo da estação dirigimo-nos para o Restaurante Leão D'Ouro, local onde os Naturalistas portugueses, tais como José Malhoa, Bordal Pinheiro, entre outros, se reuniam (neste restaurante encontra-se um quadro com os Naturalistas, que fora pintado numa sala ao lado do actual restaurante, local onde ficava o antigo Leão Pobre). Neste restaurante também Fernando Pessoa se encontrava com os amigos e discutia e conversava sobre poemas, trabalho, política, etc. Fernando Pessoa não gostava de conversas triviais, nem se sentia bem com mulheres, ficando constrangido, nem se embebedava à frente dos amigos, pois gostava de mostrar o autocontrole de um gentleman.



A seguir fomos para a rua 1º de Dezembro, vimos o 'Fantasma de Fernando Pessoa' e o Banco de Portugal, que é a porta das traseiras da Tabacaria Mónaco. Depois subimos a Rua do Carmo e o professor de geometria fez uma observação sobre a arcaria de Lionel Gaia, que trava as terras que sustentam o Convento do Carmo. Fomos para junto dos Armazéns do Chiado, onde ficava o estúdio de fotografia em que Fernando Pessoa foi retratado "na cadeira". Na Calçada do Sacramento o professor chamou a atenção para o sítio que fora a primeira Universidade de Lisboa, 'encomendada' por D. Dinis. Passámos pelo Convento do Carmo até ao elevador de Santa Justa, de onde vimos Lisboa. Voltámos para o Largo do Carmo, onde se falou da primeira vez que Pessoa viveu sozinho, no prédio nº18-1º esq. Fernando Pessoa sentia-se muito sozinho naquela casa, naquela calma. Do seu quarto Pessoa via o céu através de uma moldura de pedra, que outrora fora uma janela, dizendo que via o mar dali (o céu para F.P. era o mar). Também arranjou o primeiro emprego como redactor de correspondência estrangeira nas empresas comerciais.



A caminho da Rua da Trindade vimos alguns edifícios revestidos por azulejos de estilo industrial, que conferiam à estrutura alguma leveza, contrastando com a pintura opaca dos restantes prédios. Na Rua da Trindade vimos um edifício, também com a fachada coberta de azulejos que compunham imagens simbólicas, que remetem para a Quinta da Regaleira (símbolo da Terra no lado esquerdo e Água no lado direito, algumas figuras de deuses gregos e um símbolo da Maçonaria, a Trindade- um triângulo com um olho ao centro).



Partimos para a basílica dos Mártires, construída na época de D. Afonso Henriques para agradecer a Deus, à Virgem Maria e aos Templários pela conquista da cidade de Lisboa (Lixbuna, como era intitulada pelos Árabes). Foi nesta basílica, reconstruída após o terramoto, Fernando Pessoa ingressou na comunidade católica através do baptismo. O professor de geometria fez uma nova intervenção e realçou o facto de as igrejas portuguesas terem a forma de uma caixa, incluindo a basílica, dando maior importância ao trabalho na fachada e no interior, decorado no caso da basílica dos Mártires ao estilo barroco, com painéis da autoria de Pedro Alexandrino. Entrámos na basílica para captarmos o seu ambiente: um espaço bastante amplo, com a pia baptismal em frente à entrada da esquerda; um corredor que conduz para o altar, delimitado por duas colunas de bancos; nas extremidades da basílica encontram-se pequenos altares, com quadros e outros adornos, que celebram a Virgem Maria; o tecto é abobadado e encontra-se pintado.


Quando saímos da basílica deu-se por terminada a primeira parte da visita de estudo, com uma pausa para descansar e comer.


Posteriormente dirigimo-nos para o café 'A Brasileira', na esplanada do qual se encontra uma estátua de Fernando Pessoa. Neste café reuniam-se personagens de muitas correntes artísticas e literárias. Os quadros que decoram o interior estão lá expostos desde 1971. Os professores de geometria e português comentaram que no Chiado havia muitos hóteis e livrarias, dando o exemplo de um hotel e luxo que ficava onde é actualmente os 'Seguros Fidelidade Mundial'. A professora de português também informou de que Fernando Pessoa comprava tabaco na 'Casa Havaneza', junto à Brasileira.


Prosseguimos para a Rua António Cardoso, antigo Picadeiro Real, de onde fomos para o largo de S. Carlos. Neste espaço vimos o prédio onde Fernando Pessoa nasceu, nº4 - 4º esq., onde também se encontrava o Sinéridrio Republicano, no 2º andar, e o teatro de S. Carlos, onde o pai de Pessoa trabalhou como crítico musical para o Diário de Notícias. Dirigimo-nos para o Largo da Academia Nacional das Belas Artes. Neste local vimos a Universidade de Belas Artes e, visto que estávamos num local elevado da cidade, o grupo do Vasco, Miguel e Rodrigo fizeram as suas apresentações, que incidiam sobretudo nos miradouros da cidade e foi referido o Miradouro Senhora do Monte, que se via deste largo.

Descemos até à Rua do Ouro. Lá falou-se de uma firma de comissões e consignações, nº 87, fundada por Fernando Pessoa. Foi comentado que este passava, em média, um ou dois anos em cada emprego. Foi lido um excerto do poema 'Tabacaria', da terceira fase de Álvaro de Campos. Nesta Rua, também foi apresentada o Campo das Cebolas, mais especificamente, o escritório da firma Xavier Pinto & Cª, 43-1º, onde trabalhou e trocou muita correspondência entre 1915 e 1917 e a Rua de S. Julião, onde o poeta trabalhou na firma (A. Xavier Pinto & Cª), nº101 - Fernando Pessoa recebeu a notícia do suicídio de Mário Sá-Carneiro - um escritório pessoal, nº52-1º, e dirigiu uma firma de representação no nº41-3º.

De seguida fomos até ao café restaurante Martinho da Arcada, cuja decoração se baseia em fotos e versos de Fernando Pessoa. Vimos a mesa onde Pessoa se sentava frequentemente com Mário Sá-Carneiro. A Bruna e a Diana também referiram um encontro que Fernando Pessoa marcou com Ofélia, lendo uma carta que lhe escrevera. A partir desta carta entendemos o quão perfeccionista, organizado e reservado era o poeta tentando evitar ao máximo expor a sua paixão ao público.

Continuámos com as apresentações da Bruna e da Diana no Terreiro do Paço, numa galeria. Foi lido um excerto da 'Ode Marítima' que ilustrava a relação que Pessoa tinha com o mar. Foi referido que Fernando Pessoa ortónimo, Álvaro de Campos e Bernardo Soares abordavam o mar nas suas produções escritas, assim como também encontramos algumas referências à água, nomeadamente ao rio em Ricardo Reis, e que Alberto Caeiro não escrevia sobre o mar devido à sua 'ideologia finita'. De seguida foi apresentada a Rua da Alfândega, caracterizada pelos diversos cheiros. Como o grupo não encontrou referências sobre o local, resolveu fazer o próprio poema.

Seguimos para a Rua da Conceição, rua onde estão dois prédios chanfrados, o que confere mais espaço exterior nos largos. Neste local foi tirada a foto 'em flagrante delitro', num dos locais onde Pessoa descontraía e tomava um copo de vinho, que foi posteriormente enviada a Ofélia. Nesta rua também foram apresentadas duas firmas, uma na Rua da Vitória e outra na Rua dos Fanqueiros, onde o poeta escreveu excertos do Livro do Desassossego, a Rua da Madalena, nº109, onde este teve um emprego na primeira sede de uma empresa de importação chamada Casa Serra, a Rua dos Douradores, onde há um restaurante com o nome 'Restaurante Pessoa', que era um cliente habitual, a Rua da Assunção, onde se situava o café 'Montanhas' e no nº42 a firma Félix, Valladas & Freitas, Ldª' e a editora Olissipo, nº58-2º, a Rua Augusta - a Casa Serras, no nº228-1º, local de emprego onde escreveu bastante, a Rua da Prata, no nº 267-1ºdtº, firma 'Lavado, Pinto e Cª', local onde Ofélia e Fernando Pessoa se conheceram.

Depois de todas as apresentações concluídas ainda tentámos visitar a igreja S. Domingos, mas esta estava fechada, por isso, deu-se por terminada a visita.

1 comentário:

Anónimo disse...

Incontestavelmente, um excelente relatório de quem esteve totalmente presente.