«Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Sem amores, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
(...)»
Ricardo Reis
Correndo e rolando e andando em direcção ao mar... Assim vive a vida. Correndo, rolando, andando e desaguando no mar. Sem paixões, nem desilusões («Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos»), aproveita os prazeres da vida e proteger-se antecipadamente do que de negativo pode adquirir dela. Equilibra, portanto, como um navio em pleno oceano, a visão estoica e epicurista («Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.»)
Tenho forçosamente de realçar um excerto de uma estrofe que faz com que a corrente sentimental do meu espírito ondeie agitadamente. Esta é :
«(...)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, (...)»
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, (...)»
Gosto muito deste excerto porque transmite uma mensagem bastante forte e até 'negativa' da vida de uma forma muito musical, muito suave. É muito simples e claro, muito complacente.
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