«Nós acostumamo-nos com facilidade à preguiça da mente, sobretudo porque muitas vezes essa preguiça esconde-se sob a aparência de actividade: corremos de um lado para outro, fazemos cálculos e fazemos telefonemas. No entanto, tudo isso ocupa apenas os níveis mais toscos e elementares da mente e oculta o que existe de essencial em nós.»
Tenzin Gyatso em: O Livro de Dias, Sextante
Tenzin Gyatso em: O Livro de Dias, Sextante
Tantas confusões! Tantos problemas! Tanta miséria! Tanta frieza! Tanto sofrimento! E tudo isto porquê?...
Por causa da ambição desmedida, da ânsia pelo poder... Querem ser donos do mundo, donos dos homens e da Natureza....Mas porquê?
Por que quer o Homem ser dono do que é de todos? Porque quer dominar se esse mesmo domínio significa a destruição?
O Homem Ocidental é, em diversos aspectos, pouco evoluído. Não é pouco inteligente, pois realiza projectos complexos, elabora teorias políticas para equilibrar o frágil sistema capitalista, inova na ciência e na arte.... Mas é espiritualmente subdesenvolvido.
Na corrida eufórica que caracteriza o dia da sociedade ocidental, o individuo esquece-se de olhar para si, de falar consigo próprio, de vaguear no seu subconsciente que muitas vezes lhe dá as respostas que necessita para ser melhor, não profissionalmente, mas pessoalmente...
As respostas para as perguntas realmente importantes estão em nós próprios. E essas perguntas não incluem qual vai ser o valor das taxas de juro no futuro, nem se o próximo Primeiro Ministro vai fazer um bom trabalho. As perguntas que deveríamos fazer são: 'o que me faz feliz?' ou ' que posso fazer para me sentir bem comigo mesmo e com os outros?' ou ainda 'que posso eu dar ao mundo?' São perguntas difíceis de responder e que só em nós estão as respostas.
Se formos felizes, há muito mais probabilidades de as pessoas que nos rodeiam serem felizes também, porque o ser humano atrai aquilo que deseja ao mesmo tempo que influencia o ambiente que o rodeia, como acontece com todo o Universo. E é nisso que o Homem Ocidental falha. Falha porque não dá valor ao que é importante. Em vez disso preocupa-se e luta por coisas que lhe fazem mal.
É triste existirem pessoas que lutam pelo petróleo que nos prejudica tanto a nós e ao mundo, poluindo o ar e a água, matando animais e plantas.
É triste existirem pessoas que fabricam e compram armas, que fomentam guerras e morte.
É triste ver filmagens da bolsa de Nova Iorque, onde tantas pessoas gritam e desesperam desordeiramente. (Há quem compare a bolsa com a selva, mas eu discordo. A selva é bem mais tranquila!)
É triste assistir a debates do Parlamento, este que se encontra repleto de, como diria Almada Negreiros, "charlatães"," indigentes","indignos", "vendidos", "ciganões"!
E há tantas coisas tristes que não há água suficiente para afogar todas as mágoas provenientes dessa tristeza.
Pergunto: para quê lutar por uma felicidade tão imperfeita como a que nos proporciona a nossa sociedade? É apenas uma felicidade aparente, falsa...
«Não é com ilhas do fim do mundo,
Nem com palmares de sonho ou não,
Que cura a alma seu mal profundo,
Que o bem nos entra no coração.
É em nós que é tudo. É ali, ali,
Que a vida é jovem e o amor sorri.»
Fernando Pessoa ortónimo
Nem com palmares de sonho ou não,
Que cura a alma seu mal profundo,
Que o bem nos entra no coração.
É em nós que é tudo. É ali, ali,
Que a vida é jovem e o amor sorri.»
Fernando Pessoa ortónimo
Estamos a seguir o caminho errado. O sonho criado por nós, de que a nossa sociedade é aquela que nos conduz à felicidade, não está correcto. A sociedade do Homem Ocidental está a ruir.
É necessária uma mudança radical.
É necessária uma harmonização com o nosso mundo, com o Universo.
É necessário sermos novos Índios e voltarmos a considerar a Terra como sendo nossa mãe, todos os seres vivos como nossos irmãos, o rio como o nosso caminho, que flui e ondeia ao sabor da vida. Devemos aprender com eles e recolher da Natureza apenas o essencial para nos mantermos vivos e saudáveis.
É necessário sermos monges tibetanos e aprendermos a meditar de forma a conhecermo-nos e a transcendermo-nos, para aprendermos a viver em paz connosco e com os outros.
A água suja do nosso ser corrompido pelo progresso desenfreado deve ser purificada!
1 comentário:
Uma excelente reflexão com Pessoa dentro.
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